quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Quando o tempo não foi suficiente

'Talvez teria sido melhor dar um tempinho todos os dias para não precisar dar um tempo definitivo quando a situação explodiu. Dar este tempinho seria o que nos manteria interessantes um para o outro, sobretudo quando aquele fascínio do começo do relacionamento passou - e a gente não deve se iludir porque sempre passa. Mas agora é tarde. Explodiu e apesar do nosso amor, não conseguimos mais viver um relacionamento dessa forma. Não dá mais para continuar. Estamos nos desgastando diariamente.'

Outro dia ouvi isso de uma pessoa que terminou um relacionamento. Ele estava confuso e ao mesmo tempo convicto da sua decisão. Por isso resolvi escrever sobre este tema que faz com que as pessoas terminem um relacionamento porque se sentiram sufocados e não tomaram a atitude de mudar a tempo.

Não existe relacionamento que sobreviva tanto tempo a uma caixa fechada com duas pessoas dentro, uma televisão e uma cama. Sempre soube que isso não era garantia de felicidade.É necessário fazer uma caminhada sozinho, sair com amigos, conviver com as famílias (a sua e a do outro, juntos e separados) para se lembrar de que existem problemas em todas elas e em todos os relacionamentos e que cada uma tem a sua delícia, suas dificuldades e seus momentos de pura diversão... Ou ainda, ir ao futebol, ficar uma noite sem telefonar, passar o sábado concertando o rádio velho, ou simplesmente dormindo... São tempos que damos a nós mesmos.È necessário sair para tomar um chopp com as amigas, ver e ser vista e conhecer outras pessoas, passar o sábado de manhã fazendo compras, freqüentar a academia, levar o cachorro ao pet, assim como o outro tem necessidade de fazer a mesma coisa. Aí, para quando os dois se encontrarem, existirem novidades! Novas idéias, novos passeios, novas habilidades, novos amigos, novos assuntos!

Mas também, os momentos só dos dois são importantíssimos, somente os dois, sem necessariamente estarem “encaixados um no outro”, mas apenas juntos, convivendo no mesmo espaço, conversando qualquer coisa enquanto cada um faz algo diferente. Isso demonstra que ambos gostam da companhia um do outro, acima do sexo, com e sem silêncio.

É igualmente necessário que um ouça “de verdade” o que o outro tem a dizer, sem achar que é conversa demais. Muitas vezes, por trás de inteligência, sucesso profissional e independência, existem dúvidas, escolhas precisam ser feitas, queremos a opinião do outro para decisões importantes e que – sim! – poderiam ser tomadas sozinhas, mas por ser um relacionamento maduro, entende-se que não há nada melhor do que compartilhar, mesmo que seja apenas para saber como o outro pensa sobre determinado assunto.Relacionamento maduro é isso: uma grande troca, equilibrada com diálogos quem não devem se transformar em discussões. Com isso, gostaria de dizer não só a ele, mas a todos os casais que terminam por esse motivo, que terminar um namoro não é um crime, que ele não precisa se sentir culpado - se há amor, entendo este término decidido por uma das partes, mais como um pedido de tempo sem direito a negação do outro - e que isto precisa ser aceito pelo outro com sabedoria, coração aberto e, por que não dizer, coragem de ambos, porque, ao decidir se afastarem e terminarem, os dois se tornam vulneráveis a si mesmos e ao seu entorno.

Porém, senhores, se foi necessário acabar um relacionamento por causa da tal "falta de tempo" é porque não houve diálogo antes, não houve bom senso, não houve nada do que eu disse acima, ou seja, o relacionamento já começou torto e o término quando os dois se gostam e não conseguiram resolver o problema juntos, é simplesmente um remédio que pode funcionar bem em alguns organismos e não tão bem em outros.

Pode ser que um sinta a falta do outro e mesmo sem esse diálogo que faltou, eles resolvam que ainda vale a pena tentar de novo. Mas isso requer maturidade de ambos para saber dar um passo atrás e reencontrar o passo do outro para caminharem juntos novamente. É possível que esse afastamento nunca acabe e que os dois se percam um do outro e percam a oportunidade que de viver uma vida feliz um ao lado do outro se respeitando. Aí é cada um para um lado mesmo, em velocidades diferentes e perdendo. É possível também que durante esse afastamento, os dois tenham tempo para si e para refletir o que cada um fez de fato para contribuir para que as coisas explodissem e o mais importante de tudo: esquecerem os erros do outro e assumirem para si mesmos os seus erros e suas falhas que contribuíram para chegarem ao ponto em que um ou os dois tenham desistido do relacionamento. Nesse momento - que pode demorar um tempo maior - e somente neste momento, é que os dois irão conseguir perceber se o amor que juravam um ao outro em palavras, gestos, planos e declarações era sólido o suficiente para que os dois percebam que ainda há tempo.

Por fim, quero dizer que é importante que os dois tenham paciência e bom senso para entenderem que o fudamental em uma relação, além de amor - isso para mim é indiscutível porque aqui estamos falando de duas pessoas que se amam antes de tudo!- é a amizade, a cumplicidade e o respeito ao tempo do outro e ao seu próprio tempo - sem se sacrificar, sem sofrer com medo que o outro sofra, sem ser egoísta mas respeitando e expondo os seus próprios limites, tornando o relacionamento mais sólido. E mesmo que seja preciso um rompimento para tomarem consciência de que se se dispuserem a ceder sem cobrar por isso o relacionamento pode acontecer, que sejam maduros o suficiente, como já disse acima, para assumirem, se reencontrarem e retomarem a história de onde pararam. Com uma única e valiosa diferença: a certeza de que se amam e de que acreditam que é possível voltarem a sonhar numa mesma direção com a disposição real de fazerem diferente.

Mas eu não falei tudo isso a ele. Isso ele irá aprender com o tempo. O que eu disse a ele naquele momento foi: se há amor, vontade e consciência, vocês irão perceber que com disposição verdadeira de vocês dois de se darem esse tempinho todos os dias quando estiverem juntos novamente, vocês ainda podem fazer suas apostas no relacionamento de vocês. Mas é preciso que tenham este tempo agora para enxergarem isso com clareza e convicção. Não percam muito tempo. Não desistam de um grande amor pela incompetência dos dois em gerenciarem o tempo de vocês. Lutem, pensem, sejam firmes e logo vocês verão que quando se cresce junto, admitindo os erros e se propondo a corrigí-los vocês só terão a ganhar. Em tudo na vida de vocês. Isso é a vida de vocês. Vivemos para nos juntar a outra pessoa e dividir com ela. Se você já encontrou alguém para dividir as suas conquistas, seus planos, seus sucessos, suas angustias e uma taça de vinho, sinta-se um privilegiado neste mundo onde a maioria das pessoas é tão egoísta e não deixe que o tempo - ou a falta dele - te faça perder este presente.

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