terça-feira, 22 de julho de 2008

Control + Alt + del

Acho que não vou dizer que te amo, vou mandar um e-mail com um anexo em Power Point com alguma mensagem do Mário Quintana e aquele arquivo MP3 ao fundo, de uma música linda que ninguém nunca ouviu. Ou então, ao invés de me declarar a você, vou publicar uma declaração de amor no meu blog com alguns detalhes para você sacar que é pra você! Ah, não vou te chamar pra sair não, vou mandar um scrap pelo Orkut com o link de um cyber café bacana para os apaixonados. Você verá o link e com certeza me convidará para sair. O quê? O seu coração tá cheio? Que nada! Joga aí umas pessoas fora, esvazia a lixeira ou troca logo de servidor, que eu ganho o meu espaço. Mas se eu não gostar, formato meu coração e reinstalo tudo de novo. Talvez dê até pra ser mais feliz. Sabe como é, neste mundo informatizado a cada dia saem novas opções pra gente fingir que vive, aqui, do outro lado da tela do computador.

Este depoimento jamais será meu. Não gosto, acho idiotice, coisa de gente triste e vazia se relacionar pela internet. Elogios, contatos e conversas precisam ser reais e ao vivo. Quem precisa se declarar - e trair seu amor real - no mundo virtual, não merece um amor de verdade.

Clarice

Gosto de Clarice. Nunca soube direito exatamente porque. Mas Clarice é melancólica e eu também sou. Clarice gosta da solidão e faz dela o alicerce que a sustenta. Talvez essa nossa semelhança faz com que eu goste de ler seus livros. Talvez seja isso. Sei que a melancolia não me entristece. Ao contrário, normalmente me fortalece, me faz ver a beleza da simplicidade. Não consigo entender o porque e como as pessoas procuram refúgios nos bares, nas ruas, nas outras casas... não conseguem ficar consigo mesmas. Isso é preocupante. Uma vez ouvi que boate é coisa de gente triste. Atrevo-me a falar mais: viver na rua, nos bares, nas outras casas... isso é coisa de gente triste. É preciso um tempo para si, para viver a melancolia de ser você. Falo isso porque é o que tenho presenciado diariamente e justamente por isso, vejo o quanto é importante ficar em minha companhia.

1947 Berna - Suiça "Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro...há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu...Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força. Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver. Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma". Clarice Lispector