quarta-feira, 10 de setembro de 2008

As estrelas que não procuramos

Cada dia mais, acho que ao "dar nome" as relações corremos o sério risco de nos perdemos. Às vezes é necessário estarmos distraídos para vivermos momentos inesquecíveis. Somos amantes, namorados, amigos, tico-tico no fubá, futuros esposa e marido, terminados, separados???? Prá mim o que vale é a essência. Temos obrigação de nos encontrar, de nos falar, de sermos felizes e atestarmos isso. E mais uma vez falo do essencial. Sempre acreditei que as estrelas cadentes só aparecem quando não as estamos procurando desesperadamente. Caem assim, sorrateiras - quando estamos distraídos.


"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que já eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos. "

Clarice Lispector

Um comentário:

Cathwillows disse...

Te add lá no meu blog tb tá poetisa?
Bjssssss!