terça-feira, 29 de abril de 2008

Um índio descerá de uma estrela brilhante

Conheci. Gostei. Tenho reparado muito mais em quem me fez conhecer...
Menino, as vezes a gente precisa mesmo de uma lente prá aumentar a visão.
Taí.


"Vou por atalhos
Se faço curva faço nó
Eu não tenho timão nem direção maior
Criando a talhos, a golpes de satisfação
Faço escultura em luz de lampião
Meu oriente é rente à televisão
Dos passos que passeiam no Japão
Menino, a lente é vidro de aumentar visão
E a mente é de alimento à solidão
Porque eu não quero ficar aqui
Enquanto uns dormem
Quero um balão pra poder subir
E avise que vou voltar se não cair
Fazendo um talho
A ponta de faca sem dó
Entrega ao punho sua direção
E assim me valho
De verbo ou de coisa melhor
E aceito a cicatriz como perdão
Deixa eu me explicar sem medo
Tão mais cedo quanto for
Assim não é preciso impressionar
Cale-me com um segredo
Que eu não possa ver a cor
Talvez seja mais fácil de acordar
Se eu não puder viajar
Me encontre aqui
Talvez eu vá me esconder em mim "

(Los Porongas)

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Ah!E tem mais isso.

Ah! E tem mais "isso"...
Isso que acontece com a gente, acontece sempre com qualquer casal.
Isso ataca de repente, não respeita cor, credo ou classe social.
Parecia que não ia acontecer com a gente!
Nosso amor era tão firme, forte e diferente...
Não vá dizer que eu não avisei você, olha o que vai fazer!
Não vá dizer...
Não adianta mesmo reclamar, acreditar que basta apenas se deixar levar.
Isso, que atrapalha nossos planos, derrubou o muro, invadiu nosso quintal.
Isso... passam-se os anos, sempre foi assim e será sempre igual.
Isso, isso...
Não vá dizer que eu não avisei você, olha o que vai fazer!
Não vá dizer isso...
(Titãs)

Confesso

É isso. Nunca vi tanto a razão brigar com a emoção. O querer com o não querer. A indecisão.
Engano. Esta palavra fala muito neste momento e traduz EXATAMENTE o sentimento. Dizem que o amor nos cega. Eu digo mais: ele nos paraliza e nos impossibilita de ver o que está alí na nossa frente. Não sei também se é engano ou expectativas "irreais" que criamos em torno de uma pessoa que não dá conta de ser nem um terço do papel que lhe damos. E fantasiamos. Fantasiamos e nos colocamos a entender e atestar para nós mesmos que a outra pessoa é o que queremos que ela fosse. Só que não é. E aí quando vmos descobrindo aos poucos que aquela pessoa nada tem a ver com a pessoa que a gente criou, vem o misto de tristeza, decepção, desilusão. Ao mesmo tempo não queremos perder. Mas quando nos perguntamos o que não queremos perder, confundimos a nossa criação com a criatura. Confundimos também com o status 'não ser solteira'. No fundo, a pergunta é: vc quer aquela pessoa do jeito que a cada dia vc descobre que ela é ou quer aquela pessoa que você criou?
Realmente é uma briga comigo mesma que tenho que travar. Mas confesso, hoje acordei achando tudo diferente.

"Confesso acordei achando tudo indiferente
Verdade acabei sentindo cada dia igual
Quem sabe isso passa sendo eu tão inconstante
Quem sabe o amor tenha chegado ao final
Não vou dizer que tudo é banalidade
Ainda há surpresas mas eu sempre quero mais
É mesmo exagero ou vaidade
Eu não te dou sossego, eu não me deixo em paz

Não vou pedir a porta aberta é como olhar pra trás
Não vou mentir nem tudo que falei eu sou capaz
Não vou roubar teu tempo eu já roubei demais

Tanta coisa foi acumulando em nossa vida
Eu fui sentindo falta de um vão pra me esconder
Aos poucos fui ficando mesmo sem saída
Perder o vazio é empobrecer

Não vou querer ser o dono da verdade
Também tenho saudade mas já são quatro e tal
Talvez eu passe um tempo longe da cidade
Quem sabe eu volte cedo ou não volte mais"

(Ana Carolina)

terça-feira, 22 de abril de 2008

"Levanta,sacode a poeira e dá a volta por cima!"

Não adianta. Tem vezes em que é inevitável a gente escorregar e cair. Seja por um pensamento, seja por uma ação ou pela falta dela. A gente cai e não tem jeito. No meu caso, caí pela falta de ação, pela ação e pelo pensamento. Cai.

A gente pode até dizer que isso faz parte da evolução. Não adianta achar ruim. Caiu tem que levantar. Seja pela lei da evolução, seja pelo que for. É ruim, é péssimo, a gente se sente literalmente no chão.

Caiu? Levanta. Levantou? Então agora faz bonito. Não adianta a gente cometer um erro uma vez, reconhecê-lo posteriormente e depois continuar a cometê-lo como se nada tivesse acontecido. Aí isso é involução não evolução. Todo esforço é recompensado. Tem que ser.

Como diz a música: "Reconhece a queda e não desanima. Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima"

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Acostumados

O mundo e as relações humanas são, no fim das contas, absurdamente previsíveis. A gente sofre é por costume mesmo. Acabamos vendo, ouvindo e lendo repetições que parecem novas, mas que claramente são velhas, antigas, antiquadas. E ficamos com lágrimas nos olhos. Justamente por sabermos disso.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Bem. Apesar de.

"Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morre. Inclusive muitas vezes é o próprio "apesar de" que nos empurra prá frente."
Clarice Lispector.

terça-feira, 15 de abril de 2008

O mal e o bem

O que é a maldade? É querer demais e meter os pés pelas mãos? É acreditar em uma pessoa e ser enganada por ela?É ouvir uma mentira e não acreditar nela? É pensar e falar?Se for isso, quem não tem o seu lado mal?

Bondade é ter o coração puro. É querer bem ao outro. É cuidar. É se importar. É dar sem intenção de receber.

Clichês. Não há quem seja só mal ou só bom em uma relação. Há momentos em que as coisas afloram e as pessoas vivem.

Uns gostam tanto que se ajudam a dosar esses sentimentos, outros gostam menos e desistem ao menor sinal de complicação.

E assim caminha a humanidade!

domingo, 13 de abril de 2008

Amelie Poulan

Me entreguei a um amor. A uma história, a uma pessoa, a uma vida, a muitos planos. A uma sinceridade, a uma familia, a um enorme sentimento. Amor sincero. Amor grande que não cabia no peito e era difícil controlar. Planos de uma vida. Aqueles planinhos que a gente faz de filhos, casa, casamento, netos, nosso canto. Coisas que parecem pequenas mas que eram grandes demais prá mim. Me entreguei sim. De verdade. E por mais atritos que existissem, o amor era maior. Nossa vida juntos e nossos planospareciam que sobreviveriam a tudo porque acreditávamos nele.Ou eu acreditava. Risos e carinhos que se transformaram em lágrimas e decepção. Difícil acreditar que tudo pode terminar assim, numa tarde, com uma mentira desvendada. Tudo por causa de uma pessoa que jamais vai entender esse sentimento porque ela nunca esteve sentindo o que a gente sentia juntos. Chegou de fora e talvez prá ela seja só mais um dia e mais uma história. Talvez prá ela, ser a causa do fim de um grande amor, não signifique absolutamente nada. É possível que se sinta assim e que ainda subestime as minhas atitudes. Estar do lado de lá é sempre mais fácil e mais leve. Estar do lado de cá é ver o que era inteiro se tranformar em cacos. E sentir muito por isso.

Dores de amores

Tropeçar com a ponta do dedão. Prender o dedo na porta. Tomar uma pancada no nariz. Cortar o dedo com uma faca. Cair da cama. Escorrergar numa casca de banana. Arrancar uma casquinha de machucado. Queimar a dedo no esqueiro. Ascender o último cigarro pelo filtro.Tomar um choque no chuveiro. Bater o cutuvelo numa quina. Torcer o pé num buraco. Tropeçar e cair escada abaixo... Por mais doido que tudo isso possa ser, procurei mas não consegui encontrar algo que traduzisse a surpresa, a dor e a decepção que sinto hoje. Me sinto derretendo como Amelie Poulan.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Entregas

Hoje foi dia de pensar na rotina. Em como ela nos ajuda a organizar as coisas mas também em como ela pode fuder a vida da gente. Aí vejo como é fundamental procurar angulos diferentes mesmo nas mesmas coisas e também respeitar e viver as diferenças. Porque o que mata é chegar ao final do dia e perceber como ele passou rápido. Não é o dia que passa rápido. São os acontecimentos dele que foram completamente relevantes. É viver intensamente as diferenças que faz com que o tempo se torne mais longo. Em outras palavras o que faz o tempo parecer curto é a r-o-t-i-n-a.

É preciso fazer diferente. Mesmo que sejam as mesmas coisas. O tempo e a vida gritam para sair da rotina e parar de repetir as coisas, os lugares, as conversas e principalmente as pessoas.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Fantasias e indecisões

A fantasia aparece. Assim. De repente. Com pernas e asas ela começa a existir. Voa. Vez enquando nos corroe por dentro, outra vez vem com um sorriso escancarado, vem trazendo junto a idencisão e por aí vai -ou vem-. Daí a pouco, olha a gente jurando de pés juntos que é verdade, que tem sentido, que pode ser assim. Daquele jeitinho. E tratamos logo de arranjar argumentos, defesas e certezas para que ela se torne ainda mais verdadeira. Se apega a ela, mesmo que nos faça mal. Quando nos faz bem então... aí é que a gente teima em acreditar. Entender as pessoas, as cabeças e suas fantasias não é tarefa fácil. Não é mesmo. O que se passa no universo do ouro? Que fantasias existem? Como e porque a gente se deixa afetar por fantasias alheias? Histórias, casos e acasos demoram uma vida para serem criadas ou um suspiro. E tudo pode mudar alí, naquela hora.

Hoje penso nas fantasias. Os acontecimentos do dia me fizeram pensar nelas. O que a gente cria se torna verdade desde que a gente acredite. Mas aí é preciso arcar com as consequências. Principalmente das nossas verdades- e daquelas dos outros que teimamos em acreditar. Então me veio à lembrança uma manifestação dessas que a gente precisa estar muito distraído para poder perceber. Foi em 2005. Uma das provas mais reais que tive de que a fantasia é a melhor coisa que existe.

Foi na entrada da aldeia de Ollantaytambo, perto de Cuzco. Eu tinha me soltado de um grupo de turistas e estava sozinha, olhando de longe as ruínas de pedra, quando um menino do lugar, esquelético, esfarrapado, chegou perto para me pedir que desse a ele de presente uma caneta. Eu não podia dar a caneta que tinha, porque estava usando para fazer minhas anotações. Então me ofereci para desenhar um porquinho na sua mão. E parece q correu a notícia. E de repente um enxame de meninos queria que eu desenhasse em suas mãozinhas rachadas de sujeira e frio, pele de couro queimado: havia os que queriam um condor e uma serpente, outros preferiam periquitos ou corujas, e não faltava quem pedisse um fantasma
ou um dragão. E então, no meio daquele alvoroço, um pequenininho que não chegava a mais de um metro do chão me mostrou um relógio
desenhado com tinta negra em seu pulso:
- Quem mandou o relógio foi um tio meu, que mora em Lima - disse.
- E funciona direito? - perguntei.
-Atrasa um pouco - reconheceu.

Ah, é por tudo isso e mais que acho que uma mudança no trabalho nos faz criar fantasias incríveis como as que vem acontecendo.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Da amizade, solidão e outras emoções...

Hoje recebi um email de uma amiga se queixando da solidão. Reclama que está numa cidade distante a trabalho mas que se sente só. Pedia que lhe enviasse boas energias. Isso eu sempre faço para as pessoas que me são caras. A ela, mandei também Rubem Alves:

Mas deixa que eu lhe diga: sua tristeza não vem da solidão. Vem das fantasias que surgem na solidão. Lembro-me de um jovem que amava a solidão: ficar sozinho, ler, ouvir, música... Assim, aos sábados, ele se preparava para uma noite de solidão feliz. Mas bastava que ele se assentasse para que as fantasias surgissem. Cenas. De um lado, amigos em festas felizes, em meio ao falatório, os risos, a cervejinha. Aí a cena se alterava: ele, sozinho naquela sala. Com certeza ninguém estava se lembrando dele. Naquela festa feliz, quem se lembraria dele? E aí a tristeza entrava e ele não mais podia curtir a sua amiga solidão. O remédio era sair, encontrar-se com a turma para encontrar a alegria da festa. Vestia-se, saía, ia para a festa... Mas na festa ele percebia que festas reais não são iguais às festas imaginadas. Era um desencontro, uma impossibilidade de compartilhar as coisas da sua solidão... A noite estava perdida. Entre as muitas coisas profundas que Sartre disse, essa é a que mais amo: “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você.“ Pare. Leia de novo. E pense. Você lamenta essa maldade que a vida está fazendo com você, a solidão. Se Sartre está certo, essa maldade pode ser o lugar onde você vai plantar o seu jardim. Nietzsche também tinha a solidão como sua companheira. Sozinho, doente, tinha enxaquecas terríveis que duravam três dias e o deixavam cego. Ele tirava suas alegrias de longas caminhadas pelas montanhas, da música e de uns poucos livros que ele amava. Eis aí três companheiras maravilhosas! Vejo, frequentemente, pessoas que caminham por razões da saúde. Incapazes de caminhar sozinhas, vão aos pares, aos bandos. E vão falando, falando, sem ver o mundo maravilhoso que as cerca. Falam porque não suportariam caminhar sozinhas. E, por isso mesmo, perdem a maior alegria das caminhadas, que é a alegria de estar em comunhão com a natureza. Elas não vêem as árvores, nem as flores, nem as nuvens e nem sentem o vento. Que troca infeliz! Trocam as vozes do silêncio pelo falatório vulgar. Se estivessem a sós com a natureza, em silêncio, sua solidão tornaria possível que elas ouvissem o que a natureza tem a dizer. O estar juntos não quer dizer comunhão. O estar juntos, frequentemente, é uma forma terrível de solidão, um artifício para evitar o contato conosco mesmos. Sartre chegou ao ponto de dizer que “o inferno é o outro.“ Me lembro também de Cecília Meireles, tão lindamente descrita por Drummond: “...Não me parecia criatura inquestionavelmente real; e por mais que aferisse os traços positivos de sua presença entre nós, marcada por gestos de cortesia e sociabilidade, restava-me a impressão de que ela não estava onde nós a víamos... Distância, exílio e viagem transpareciam no seu sorriso benevolente? Por onde erraria a verdadeira Cecília...“ Sim, lá estava ela delicadamente entre os outros, participando de um jogo de relações gregárias que a delicadeza a obrigava a jogar. Mas a verdadeira Cecília estava longe, muito longe, num lugar onde ela estava irremediavelmente sozinha. O primeiro filósofo que li, o dinamarquês Soeren Kiekeggard, um solitário que me faz companhia até hoje, observou que o início da infelicidade humana se encontra na comparação. Experimentei isso em minha própria carne. Foi quando eu, menino caipira de uma cidadezinha do interior de Minas, me mudei para o Rio de Janeiro, que conheci a infelicidade. Comparei-me com eles: cariocas, espertos, bem falantes, ricos. Eu diferente, sotaque ridículo, gaguejando de vergonha, pobre: entre eles eu não passava de um patinho feio que os outros se compraziam em bicar. Nunca fui convidado a ir à casa de qualquer um deles. Nunca convidei nenhum deles a ir à minha casa. Eu não me atreveria. Conheci, então, a solidão. A solidão de ser diferente. E sofri muito. E nem sequer me atrevi a compartilhar com meus pais esse meu sofrimento. Seria inútil. Eles não compreenderiam. E mesmo que compreendessem, eles nada podiam fazer. Assim, tive de sofrer a minha solidão duas vezes sozinho. Mas foi nela que se formou aquele que sou hoje. As caminhadas pelo deserto me fizeram forte. Aprendi a cuidar de mim mesmo. E aprendi a buscar as coisas que, para mim, solitário, faziam sentido. Como, por exemplo, a música clássica, a beleza que torna alegre a minha solidão... "

domingo, 6 de abril de 2008

Começar...

Começar a pensar em como começar, me faz lembrar Rubem Alves "as letras soltam das nossas mãos e a partir daí não nos pertencem mais". E é isso. Sem inteção alguma e com todas as inteções, começo. Num dia londrino no meio das montanhas das Minas Gerais. Chuva com gosto de cama, de carinho e um tom nostálgico do que podem vir a ser as letras que irão se soltar. Vontade de rir, de não pensar e de falar. Numa noite sem lua, começa a história do Lilla Moon. É isso.