quinta-feira, 10 de abril de 2008

Fantasias e indecisões

A fantasia aparece. Assim. De repente. Com pernas e asas ela começa a existir. Voa. Vez enquando nos corroe por dentro, outra vez vem com um sorriso escancarado, vem trazendo junto a idencisão e por aí vai -ou vem-. Daí a pouco, olha a gente jurando de pés juntos que é verdade, que tem sentido, que pode ser assim. Daquele jeitinho. E tratamos logo de arranjar argumentos, defesas e certezas para que ela se torne ainda mais verdadeira. Se apega a ela, mesmo que nos faça mal. Quando nos faz bem então... aí é que a gente teima em acreditar. Entender as pessoas, as cabeças e suas fantasias não é tarefa fácil. Não é mesmo. O que se passa no universo do ouro? Que fantasias existem? Como e porque a gente se deixa afetar por fantasias alheias? Histórias, casos e acasos demoram uma vida para serem criadas ou um suspiro. E tudo pode mudar alí, naquela hora.

Hoje penso nas fantasias. Os acontecimentos do dia me fizeram pensar nelas. O que a gente cria se torna verdade desde que a gente acredite. Mas aí é preciso arcar com as consequências. Principalmente das nossas verdades- e daquelas dos outros que teimamos em acreditar. Então me veio à lembrança uma manifestação dessas que a gente precisa estar muito distraído para poder perceber. Foi em 2005. Uma das provas mais reais que tive de que a fantasia é a melhor coisa que existe.

Foi na entrada da aldeia de Ollantaytambo, perto de Cuzco. Eu tinha me soltado de um grupo de turistas e estava sozinha, olhando de longe as ruínas de pedra, quando um menino do lugar, esquelético, esfarrapado, chegou perto para me pedir que desse a ele de presente uma caneta. Eu não podia dar a caneta que tinha, porque estava usando para fazer minhas anotações. Então me ofereci para desenhar um porquinho na sua mão. E parece q correu a notícia. E de repente um enxame de meninos queria que eu desenhasse em suas mãozinhas rachadas de sujeira e frio, pele de couro queimado: havia os que queriam um condor e uma serpente, outros preferiam periquitos ou corujas, e não faltava quem pedisse um fantasma
ou um dragão. E então, no meio daquele alvoroço, um pequenininho que não chegava a mais de um metro do chão me mostrou um relógio
desenhado com tinta negra em seu pulso:
- Quem mandou o relógio foi um tio meu, que mora em Lima - disse.
- E funciona direito? - perguntei.
-Atrasa um pouco - reconheceu.

Ah, é por tudo isso e mais que acho que uma mudança no trabalho nos faz criar fantasias incríveis como as que vem acontecendo.

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